Sinopse
Era uma vez um milhão de pontinhos correndo para um grande ponto. E o grande ponto esperou que um dos pequenos pontinhos entrasse em si como um girino. E assim foi, e assim se fez Sofia, e cresceu o ventre de sua mãe, “Faça-se a luz!” e a luz se fez e nasceu Sofia.
Ela era uma garota muito esperta e tinha uma obsessão por pontos. Para ela, de dois pontos possíveis podia surgir o amor e quem sabe, milhões de pontinhos, um ponto grande e, enfim, outro nascimento; das sementes de melancia podiam-se fazer um belo colar, bastava ligá-los; de uma simples semente podia surgir uma flor. Adorava ligar pontos para dar sentido à vida e para criar outros universos possíveis. Ficava horas olhando o céu estrelado dando sentido a sua existência e fazendo poesia com os astros. Formigas, palavras, pessoas, pingos dos ii, planetas, átomos, células, tudo para ela eram pontos que construíam o universo. Queria se chamar Demócrita em alusão ao sábio grego que acreditava que todos os seres e coisas eram constituídos de pequenas unidades microscópicas. É claro que seu jogo preferido era o de ligar os pontos, mas ela sempre criava outros pontos e fazia outros desenhos possíveis sobre o desenho original.
Aos doze anos de idade, depois de muitos anos ligados um ao outro, dias, horas e segundos unidos formando o curso do tempo, Sofia, a “Demócrita”, teve uma epifania: teve um sonho no qual o grande espelho de seu quarto refletia sua imagem. Ela viu numa mesma imagem o feto que fora no ventre da mãe, a menina que é, seus traços com 1, 2, 3, 4, 5, 6... anos de idade. Era sua imagem inteira com seus pensamentos dentro da barriga da mãe, fora da barriga da mãe, e o impressionante é que ela conseguiu se ver refletida no futuro, como uma velha sábia, afinal seu nome era Sofia, longos cabelos brancos, muitas rugas e, por fim, um branco infinito, um incompreensível vazio, sem pontos, sem nada. “Estou morta!!!”, ela pensou, foi então que ela se viu nascendo com seu choro muito agudo, o ar descolando seus pulmões, seu choro era tão agudo que o espelho partiu-se um minúsculos pontinhos, eram os pontinhos da sua existência, seu reflexo ficou incompleto, pedaços no chão, rosto quebrado, parte da mão, parte de seu conhecimento esparramou-se, outros cacos ou pontos se perderam, outro pedaço e outro, Sofia tentou em vão juntar os cacos e no seu desespero, olhando para o imenso reflexo multipartido, perguntou-se “Quem sou eu?”. Acordou, acendeu a luz e olhou-se no grande espelho de seu quarto, ligou os pontos para dar o contorno de seu corpo, dois olhos, células, uma miríade de pensamentos, era ela, estava ali inteira,..., será? Não lhe saía da mente as letras Q-U-E-M separadas por um espaço, seguidas das letras S-O-U, separadas por outro espaço e seguidas das letras E-U e um imenso interrogação “?”. Há algum tempo Sofia havia tendo sonhos estranhos e instigantes, passou, então, a ligar dois mundos paralelos: o “Mundo dos sonhos” com seus símbolos, seus pontos, seus seres e o “Mundo Desperto” que era a realidade em que ela vivia com seus muitos pontos de vista. O mundo dos sonhos lhe lançara grandes questões para sua cabeça de menina inteligente. “Quem sou eu?” e a sensação clara e óbvia de que um dia iria morrer. Mas ela não queria morrer, embora soubesse que quanto mais pontos somasse à sua idade, mais pontos distante estaria do ponto de partida que seria seu nascimento e mais próxima estaria do ponto de chegada da morte. “Será que existe mais pontos depois do fim?” pensou e em sua mente apareceram três pontinhos seguidos “...”, aprendera que eram as reticências da vida.
Desde então Sofia entrou numa fantástica viagem de autoconhecimento, em busca de sua identidade. Era uma criança inteligente e sabia que ia morrer um dia e isso a deixava pensativa, ao mesmo tempo em que milhões de perguntas lhe vinham à mente sobre o porquê das coisas terem um fim. “Não pode ser um outro início?” perguntava ela. Pode-se enganar a morte?
Com isso, seus sonhos passaram a ser grandes universos de conhecimento como elos que se ligavam ao mundo do “Acordar” ou “Desperto”.
Nesta jornada Sofia conhece Demócrito, um garoto sardento que não gostava muito de suas pintas. Na verdade, ele gostava das coisas inteiras, não costumava dar atenção aos detalhes pequenos como as estrelas, por exemplo. Ele preferia ver um grande bolo gelatinoso com lugares brilhantes, ou seja, ele via o bolo, mas não os pontilhos, ele via a Ursa Maior, mas não dava atenção aos pontos que formavam o desenho, no mais, ele acreditava que não tinha nascido, muito menos iria morrer, achava que sempre tinha existido, pois não se lembrava de quando tinha nascido e a vida ainda continuava rumo ao infinito. Estava sempre no mesmo e eterno instante “o agora”. Não gostava de pensar em dias, horas, segundos, pois imaginava as coisas “totais”, completas, inteiras,...As grandes diferenças de pensamento uniram os dois, bem, uniram na visão de Sofia, já que para Demócrito ele não entendia muito bem o que era unir, sabia apenas da experiência de estar unido, e só. Sofia se perdia em devaneio e imaginação, fazendo infinitos desenhos com as sardas de Demócrito e, enquanto este não suportava o próprio nome, ela dizia “Você tem o nome mais bonito que eu queria pra mim!”.
Foi assim que os dois partiram nesta jornada de autoconhecimento em que muitos outros personagens haveriam de passar por suas vidas, “Au, au!” concordava e se animava Pingo, o chachorro de Sofia, que não era um dálmata como queria ela, pois ele tinha uma só e esquisita cor que não existia na palheta de cores do universo. Como pode? Um cachorro com uma cor que não existe? Enfim, lá foram Demócrito, que não queria se chamar Demócrito, Sofia, a “Demócrita”, Pingo,...rumo às respostas para perguntas quase impossíveis.
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Gil, adorei!
Acho que devia ser esse o enredo da história do livro.
Ficou muito bom.
Beijos.
Anônimo disse...
25 de agosto de 2008 às 08:43