''Eu adoro chapéus''. Isso foi o que disse Clara antes de matar Beto. Não temeu olhar pra trás após ter deixado o corpo estendido. Tentou rezar por pena, mas já esquecera a segunda parte do pai nosso. Apenas parou e admirou seu chapéu, era o que lhe dava pose, trazia-lhe magia.
Matar não fazia parte de seus planos, mas nada e nem ninguém a impediria de chegar longe, aonde sempre soube que viveria; afinal o tempo de tristeza não existia mais.
Clara estava satisfeita consigo, apesar de sentir uma certa angústia. Bebeu um copo d'água e sentiu o gosto do antigo perfume de sua mãe. Isso a balançou um bom tanto, não conseguia fugir de lembranças e sabia que apenas elas poderiam impedi-la. Trêmula, caminhou até a cozinha, onde na maior parte do tempo via a mãe. Pensava no modo como cantava, sorria e até mesmo na maneira como ela fazia chá, fazendo cada mistura mágica que sempre surpreendia a filha.
Já em pânico, Clara resolveu sumir. Bem, ela podia ser jovem, mas não era tola, sabia que em pouco tempo a procurariam para prestar depoimento. O ermo da prisão intensificaria suas lembranças, a mataria aos poucos. Seria mesmo o fim.
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Pri, eu adorei o texto, desde que o ouvi na sala. Achei muito boa a quebra de expectativa (eu achei que Beto era o namorado dela), e o fim trágico.
Porém, eu mudaria duas coisas:
a parte do pai nosso era diferente quando você leu. Eu preservaria o trecho retirado. Em "ninguém a impediria de chegar. Chegar longe, aonde sempre soube que viveria", eu tiraria um dos "chegaria".
É isso.
Beijoca.
Juliana Caribé disse...
13 de agosto de 2008 às 16:52
Eu coloquei imagem no seu texto... Desculpa, eu sou metida... =)
(Se não quiser, pode tirar...)
Mais beijos.
Juliana Caribé disse...
13 de agosto de 2008 às 17:04
Fiz as mudanças que você sugeriu.
A foto ficou boa, gostei!
Beijos.
Pri disse...
13 de agosto de 2008 às 19:03
cara pri, gosto muito de seu texto, mas fiquei pensando no nome Beto. acho que quebra o clima, talvez por isso juliana tenha pensado em namorado, não sei. toda vez que leio tenho a sensação de que tem algo fora do lugar. o que vc acha?
elizabeth disse...
13 de agosto de 2008 às 22:48
"Tentou rezar por pena, mas já esquecera a segunda parte do pai nosso". Adorei essa frase desde o primeiro momento em que você a leu em sala de aula e fiquei curioso por saber por que você tentou alterá-la rs. Quanto ao nome Beto, tive a mesma impressão da professora.
Anônimo disse...
14 de agosto de 2008 às 10:57
é, isso do pai nosso fica muito bom, sobretudo se pensarmos que termina sendo uma forte alusão ao próprio personagem, que é pai dela.
elizabeth disse...
14 de agosto de 2008 às 18:39
Eu discordo. Acho que o nome Beto contribui para o clima de suspense e para a quebra de expectativa no momento em que se sabe que ele é pai dela, não namorado. Acho que, se não houvesse o nome dele, não teria o mesmo efeito.
Beijoca.
Juliana Caribé disse...
14 de agosto de 2008 às 21:58
Bem, eu escolhi o nome Beto justamente pra não dar a dica de que o morto é, na verdade, o pai da Clara. Mas também pensei que um Beto pode ter qualquer idade, não precisa remeter especificamente a um cara jovem, por isso não achei que comprometeria o texto.
Vou digerir os comentar e pensar o que eu acho, não consigo decidir de uma vez se mudo ou não! Risos. Continuem dando sugestões, eu adoro!
Beijos a todos e obrigada pelas colaborações =)
Pri disse...
14 de agosto de 2008 às 23:00
voltando ao nome (hehehehe), acho que a surpresa ou a quebra da expectativa independe do nome: sempre haverá. não é por causa do nome que o leitor já saberá que é o pai. mas algo me incomoda ao saber que é o pai e que se chama beto. como leitor, fico achando que o autor apostou nesse dado (e não na sua capacidade de criar uma trama imaginativa o suficiente para me surpreender)para chegar ao fim. mas o texto é seu, vc que sabe. essa discussão serve, todavia, para refletirmos todos sobre a arte de escrever, o que não deixa de ser uma coisa maravilhosa. vai um beijinho.
elizabeth disse...
15 de agosto de 2008 às 13:52