Descrição de Demócrito

Fiz uma descrição do Demócrito, só um palpite, mexam à vontade. Mudei o nome neste texto porque não me sinto muito confortável com Demócrito, mas isso não significa que tenha que mudar o nome, mas fica pelo menos para pensar se fica Demócrito mesmo.

Otávio, amante do mistério, não tão somente porque gosta dos romances de Agatha Christie ou dos contos de Edgar Allan Poe. Mas porque ama saber que todas as pessoas guardam grandes mistérios, esse mistério humano objeto de sua paixão. Admira a imprevisibilidade, garante que não há nada de mais humano. Sua personagem favorita é Medéia, que primeiramente é apresentada como vítima para depois se tornar a agente do crime.
“Os homens são como cebolas, muitas camadas, mas não tem como se livrar delas, elas fazem parte das pessoas.” Como aspirante às artes culinárias, Otávio gosta de fazer essa comparação, os homens-cebola como sempre dizia. Desconfiava terrivelmente dos plenamente bons ou maus. “Uma pessoa que não consegue me mostrar camadas, é plana, uma tábua. Fico apenas na superfície e as melhores surpresas estão nos recheios, que é de uma pessoa sem recheio?” pensou saboreando uma deliciosa bomba.
Contudo, Otávio tendia a ser mais pessimista do que otimista no que se referia à figura humana, mas gostava de mostrar apenas sua face otimista. Encantava facilmente qualquer um, sempre cortês e confiante, era difícil não despertar empatia. Já era claro para ele que seguiria carreira no Teatro, poderia representar quantas pessoas quisesse e buscar esse mistério que todos guardam, até para fugir do seu próprio mistério que tanto teme. Otávio, nesse desejo louco, vira tantos outros que até esquece quem é.
Talvez o grande erro de Otávio seja achar que consegue ficar imune aos outros, acredita que suas máscaras são as mais discretas. Mas ele se engana, porque nesse grande baile de mascarados, a máscara de todos um dia cai. E de fato a máscara de Otávio cairá quando tentar se mostrar uma pessoa para Isis e outra para Iris. O que acontecerá é que ele acabará por esquecer quem de fato quem ele é. A vida pode até parecer um grande palco para representações diversas, mas as pessoas estão para além do que elas gostariam de representar.
Filho de dois servidores públicos, irritava-se constantemente com os pais, reclamava do cotidiano, das coisas sempre iguais. “Por que comer sempre sopa no jantar?” Diante de desafios como esse, aprendeu a se virar com os ingredientes. Logo cedo, começou a fazer combinações aparentemente esdrúxulas. Na maioria das vezes o resultado de suas experiências não são totalmente bem sucedidas, mas em cerca de 12% de suas loucas gastronômicas experiências, o resultado é uma explosão maravilhosa de sabores, difícil de explicar, perceptível apenas para o paladar. Silvia Maria, sua mãe, nunca esqueceu o sabor do bolinho de castanha-do-Brasil com recheio de queijo-minas.
Todavia, ela jamais provaria novamente tal sabor, é que Otávio era avesso a receitas, dizia que elas limitavam seus talentos e em suas palavras: “cada prato é um prato, impossível de ser imitado”. Assim, o menino jamais fazia uma iguaria igual a outra, todas eram diferentes. Com a cozinha e a representação, Otávio driblava o tédio do seu dia-a-dia. Mas era algo que lhe custava caro: grandes pilhas de louça na cozinha e a crise de identidade por ser tantos e não ele só.

Sete horas da manhã. Íris senta-se à mesa primeiro. Naquele último momento de calma, em que todos ainda estão dormindo, tem tempo para folhear o caderno de política e deixar sobre a mesa o restante do jornal, que a casa vai devorar, cada um a sua maneira. A mãe normalmente cata os classificados, o pai confere a página de entretenimentos, pela qual é o editor responsável no plantão noturno do jornal. Íris faz seu leite com Nescau e dá continuidade ao seu ritual de todas as manhãs. Enquanto termina o leite, ouve o grito da mãe:
- Meu Deus, já estou atrasada! – Mais uma vez o despertador não tocou. Dona mariana pula da cama já nervosa com o horário e com o esquecido marido, “que já devia ter consertado aquele maldito despertador!”
- Bom dia meu anjo... – Beija a cabeça da filha, senta-se apressada para empurrar uma grande xícara de café forte e amargo, único item de seu desjejum, rico de eletrizante cafeína, combustível para uma longa jornada em dois empregos estafantes no centro da cidade.

– Oi mamãe. Dormiu bem? Cê ta bonita! Nós vamos ao cinema amanhã?... – Segue Íris falando desenfreadamente. Ela gosta de aproveitar os poucos minutos que tem com a mãe, que sai muito sedo todos os dias e só volta quando filha já esta dormindo.
- Oh, minha linda! A mamãe está com pouco tempo. Mas, a gente combina o cinema depois... – Levanta-se a mãe enquanto senta-se o pai. Os dois trocam um rápido selinho matinal, antes de dona Mariana bater em retirada.
Seu Guimarães, como sempre, mesmo tendo chegado do trabalho de madrugada, faz questão de tomar café com a filha, pois não estará em casa quando Íris voltar de seu longo dia de estudante, de suas diversas atividades extracurriculares, como a aula de flauta transversal, natação e do clube de literatura que participa na escola. Íris gosta muito da escola, gosta de se manter ocupada, imersa nos livros, seus melhores e atualmente únicos amigos. Sonha em um dia ser escritora, talvez mesmo jornalista, como seu pai. Em suas noites em casa, passa as horas anteriores a ir para cama e cair no sono escrevendo em seu diário. Escrevia sobre tudo, escrevia sobre seu dia, mas também poesias, histórias criadas ao longo do dia e tudo o mais que vinha a sua cabeça. Também se arriscava a fazer desenhos, mas era bem crítica com relação a eles, gostaria de ter talento para eles e poder ilustrar suas próprias histórias, mas não conseguia ficar satisfeita com nenhum deles. O sentimento de satisfação sempre tomava conta de Íris quando terminava de escrever em seu diário, mas juntamente com ele vinha o tremendo medo, o pavor de que alguém algum dia encontrasse seus escritos. Não que ela tivesse o que esconder, mas por algum motivo que não entendia muito bem, talvez fosse só seu jeito tímido mesmo, o fato é que tinha uma enorme vergonha de que lessem ou vissem qualquer de suas obras, ao menos por enquanto.
- Bom dia princesa. Já leu o jornal todo? – Brinca seu Guimarães, com a mania de leitura de sua filha. – Eu ouvi você perguntando sobre o cinema pra mamãe. É que ela esta trabalhando e estudando muito, minha filha. Mas, se ela não puder ir, eu vou, tá bom?
- Tudo bem, Guimarães. Já estou acostumada... – Responde conformada. Íris se lamenta do pouco contato com a mãe nos últimos anos. Guimarães, como é chamado informalmente pela sua princesa, tenta suprir a ausência de Mariana. A condição de ser filha única agrava ainda mais a solidão de Íris, que se afunda cada vez mais nos livros em busca de companhia.
Para passar o tempo e a solidão, Íris costuma invadir em segredo o computador do seu pai para mexer nos arquivos do trabalho. Gostava de ler o que ele escrevia, às vezes se arriscava fazendo pequenas alterações. Sentia-se tão mais próxima de seu pai nesses momentos, e igualmente próxima de sua profissão, com a qual a menina sonhava.

Íris está numa fase estranha de sua vida. Não se reconhece muito bem no espelho, parece que tudo mudou de uma hora para outra. Às vezes seus pais se preocupam com o fato de não trazer amigos da escola, não falar deles, nem ficar horas ao telefone como as demais garotas de sua idade. Isso era realmente muito estranho para eles, afinal, ela fazia tantas atividades... mas preferiam dar espaço para a menina, ela era tímida, mas iria desabrochar na hora. Mas, seus pais são pessoas tranqüilas. Fora o corre-corre diário da mãe, a vida “morcega” do pai e as excentricidades da filha, os Guimarães são como qualquer família de classe média e se amam muito. Porém Íris... Íris tem alguma coisa. Já não consegue prestar atenção a boa parte das histórias de seu pai, falando daqueles “áureos tempos da juventude”, “o seu tempo de ativista político” e sente falta da mãe, que sempre estava trabalhando. Seus dias parecem estar se fechando num ciclo de rotina que não mais a comportava. Íris tem lá seus meios de calar toda essa estranheza que nasce dentro do seu corpo de treze anos, onze meses e imaginação realmente muito fértil.
Na escola as coisas também andam estranhas. Íris continua gostando muito de estudar. Sua matéria preferida é História. Quantas vezes foi à Idade da Pedra, chegou até os maiores confrontos da humanidade, viu os mais belos monumentos, para depois tornar a ver a si mesma, sentada na carteira, como sempre, na primeira fila. Sabe, essas viagens costumavam ir mais longe, parecia realmente que alguma coisa estava acontecendo. Hoje, as duas primeiras aulas quase não passaram. No recreio, aquele alívio, a sala se esvazia e ela é a última a sair. Desembrulha o lanchinho que já traz de casa, come-o quietinha, e vai ao encontro daquelas três meninas ali, com quem ela até conversa, mas não se abre. Está cada vez mais sozinha naquele mundo da escola.
Na aula seguinte, enquanto fazia o exercício de Geometria, lembrou-se dos planetas, das galáxias, do sol, do zodíaco, e se deu conta que seu aniversário estava perto. Já ouvira falar em inferno astral, mas será mesmo? Não sabia o que tinha, mas sentia um vazio, não conseguia mais brincar com a antiga fluidez, previa totalmente seu dia e já se entediava antes de qualquer coisa: quando chegar a casa, vai tirar o uniforme, fará todas as lições, verá as novelinhas e os jornais na TV, jantará alguma coisa sozinha e depois irá para a cama, tentando ficar acordada para receber o precioso beijo de boa noite de dona Mariana, se ela não chegar muito tarde.
Nesse ritmo, passou mais um dia de aula. Sabia que esperaria o ônibus, como sempre, naquela parada, como sempre, e que, no ônibus, estaria o mesmo motorista, como sempre. Íris, indo contra todo aquele “como sempre”, tomou uma decisão que parecia boba, mas que mudaria o rumo da nossa história:
- Hoje eu vou pra casa a pé.


Enredo

A estória de duas garotas que não se conhecem, mas têm um amigo em comum: Demócrito. Apenas Ízis, que tem aquela mania de juntar pontos e enxergar mensagens no jornal, inicialmente é amiga do menino sardento (estudam na mesma escola). Ele na verdade tem uma “quedinha” por ela, mas a garota “ainda” não tem esse tipo de interesse por garotos. Ambos passam a freqüentar o Parque das Montanhas Encantadas.
Íris é uma menina inteligente, mas muito tímida com relação às amizades. Por isso esta sempre solitária. Para passar o tempo e conhecer pessoas, além de fazer aquelas brincadeiras com o Jornal / trabalho do pai, começa a trabalhar como voluntária no parque, que passa por dificuldades financeiras. Ela trabalha auxiliando Bumba, único funcionário. Segundo Bumba, grande parte do problema é que o dono do parque, embora seja um ótimo velhinho, não bate bem da cabeça e não tem condições de administrá-lo...
Demócrito acaba conhecendo Íris que é uma menina muito bonita e interessante, embora tímida. Para fazer ciúmes em Izis, inventa que esta “ficando” com a menina que trabalha no parque (Íris) e começa a contar vantagens (coisa de menino) sobre sua “nova namorada”. Izis, acaba enciumada mesmo, mas, inicialmente, não quer dar o braço a torcer. Conversando com Íris, Demócrito descobre que é ela que faz as modificações nos jogos de pontos e palavras cruzadas do Jornal, as quais são objeto da compulsão da outra amiga, Izis. Uma vez que inventou a mentira, passa a evitar que uma encontre a outra para não ser desmascarado. O pior é que tudo caminha para que ambas se encontrem. As duas tem muito em comum, principalmente o medo de andar de montanha russa. Contudo, tanto Demócrito como várias ironias do destino acabam sempre por impedir esse encontro.
Após descobrir, por intermédio de Demócrito, que suas brincadeiras com o jornal estão sendo percebidas por outra menina (a Ízis), Íris passa a direcionar suas mensagens de maneira mais elaborada, fazendo o interesse de Izis cada vez maior. Porém sua timidez a proíbe de se apresentar pessoalmente.
No dia do Aniversário de Izis, ela acaba sendo convencida a descer na montanha russa. Aí o inesperado acontece: A menina some. O carrinho da montanha para sozinho. Embora os amigos confirmem que Ízis estava na Montanha quando sumiu, ninguém consegue encontrá-la, nem mesmo provar que ela sumiu no parque. Para espanto de todos, ao retornarem ao parque no outro dia pela manhã, Íris e Demócrito descobrem que o parque também sumiu, ficando apenas o terreno baldio que ocupava e o cachorro Sapato que fora esquecido.
Demócrito e Íris se sentem culpados por terem mentido para Ízis. Decidem sair em sua procura. Para isso se utilizam de Sapato, que segundo seu dono, sempre encontrava o Parque, onde estivesse, mesmo quando era esquecido.
Saem de bairro em bairro, de parque em parque procurando pela menina. Mas não conseguem encontrar. Sapato vai parar num ferro velho onde encontram parte dos brinquedos do antigo parque, agora falido e desmontado. Bumba agora é do dono do ferro velho. Seu antigo patrão, depois da falência, doou os brinquedos para o fiel funcionário, que abriu o ferro velho para viver sem o patrão, que adoeceu de tristeza e morreu por causa do parque.
A montanha russa esta parcialmente desmontada. Mas, seguindo orientações de Sapato, que passa a incorporar o espírito de seu misterioso e falecido dono, os garotos, ajudados por Bumba, montam apenas um carrinho no alto da parte mais alta da montanha e decidem descer a montanha da mesma forma que Ízis o fez. Acreditam que dessa forma, podem ir parar no mesmo lugar (mágico) que a amiga deve ter ido.
O carrinho desce desenfreado na montanha caindo aos pedaços e, antes de se estabacarem lá embaixo, eles se vêem no mesmo parque Montanhas Encantadas, só que dessa vez esta novinho, cheio de gente. Seu dono ainda esta vivo e saudável.
Ízis esta lá. Ela é a gerente do parque só que agora esta adulta e não reconhece os amigos que continuam adolescentes. Eles começam a convencê-la de voltarem para suas vidas no “mundo real”. Ela não reconhece os amigos e odeia andar de montanha russa. Não acredita em nada daquela estória maluca.
O único modo possível de Ízis (e os amigos) voltarem à vida real, segundo o dono do parque, é que ela desça na montanha novamente, exatamente no dia de seu aniversário. Para tanto seus amigos começam a mandar-lhe novas mensagens pelos joguinhos dos pontos no jornal (sua eterna mania). Como ela continua compulsiva com respeito às mensagens, acaba cedendo e todos retornam para o Parque das Montanhas Encantadas, exatamente no dia em que ela sumiu, como se nada tivesse acontecido.
Izis não vai lembrar de nada. No fim da estória Demócrito apresenta Íris para a namorada e fica em aberto a possibilidade de serem amigas...

Roteiro

1- Casa de Izis;
2- Casa de Íris;
3- O Parque;
4- Demócrito e Ízis no parque;
5- Demócrito e Íris no parque;
6- Ízis e Íris no parque sem se encontrarem;
7- Ízis e Demócrito começam a namorar na escola;
8- Íris descobre as mentiras de Demócrito;
9- O dono do parque intercede no triangulo amoroso;
10- Ízis some no dia de seu aniversário;
11- Íris e Demócrito começam a procurar pela amiga;
12- Os amigos encontram o ferro velho do Bumba;
13- Sapato começa a receber o espírito do seu dono;
14- Os garotos, ajudados pelo cachorro e pelo Bumba, remontam precariamente a Montanha russa;
15- Todos se encontram no parque novinho, mas Ízis não é mais aquela menina;
16- Depois que Ízis decide descer a Montanha, tudo volta a ser como antes;

Agora sim! Ísis no parque.

- Uau! - disseram ao mesmo tempo Ísis e aquele menino sem nome que encontrara a pouco.
Na entrada lia-se "Montanhas Mágicas" em letras coloridas. Exatamente o que ela precisava! Admirou aquele lindo portal, que mais parecia o limite para uma outra dimenção, e esteve ali por alguns instantes. Como que entrando em casa de desconhecido, Ísis retirou o pequeno chapéu branco de florzinhas azuis e olhou em volta buscando o menino de a pouco. Só o viu de longe, sumindo naqueles caminhos coloridos de açúcar que ligavam uma atração à outra.
Ísis mal podia se mexer de tão emocionada. Seu coração de menina batia tão rápido, que parecia ter se cansado de morar apertadinho e queria saltar para fora e... Ela pára de repente.
-Duas montanhas russas... - pensa em quase voz alta, de frente àquele monumento.
- Duas montanhas russas... - repete baixinho.
O interessante é que Ísis já vira montanhas russas maiores e mais sofisticadas, mas aquelas duas ali eram diferentes, causavam um quê de paixão, de proibido e até de... mágico!

A professora pediu para reescrever a última frase só para tirar o clichê do "mudou sua vida". Aí está:

Nesse ritmo, passou mais um dia de aula. Sabia que esperaria o ônibus, como sempre, naquela parada, como sempre, e que, no ônibus, estaria o mesmo motorista, como sempre. Íris, indo contra todo aquele “como sempre”, tomou uma decisão que parecia boba, mas que mudaria o rumo da nossa história:
- Hoje eu vou pra casa a pé.

Capítulo 1 versão 3

Não gostei da idéia do Demócrito aparecer depois, achei que mudou demais o que já estava escrito, que eu gostei tanto, além de ter perdido alguns elementos, como o contato com a Sofia e a amizade com Demócrito. Gostei da idéia dele ser meio sacana, mas acho não precisa mudar tanto, ele podia se transformar no meio do livro, tipo aquele filme do sexto sentido? Que você nunca imagina que o cara está morto, mas quando vai assistir de novo repara que todas as provas dele estar vivo são na verdade complementos que a nossa imaginação fez? Tipo a novela das 20h que todo mundo torce para a Flora e do nada descobre que a mulher é assassina?
Então, tirei os elementos que provam que Demócrito é um bom menino, deixei mais aberto para a gente descobrir que ele é falso mais para a frente.
Então, pensando em algumas das idéias e trechos da Dani, refiz o capítulo que apresentei na sala:


- Mas o seu aniversário é só mês que vem Zi! A mensagem marcava o dia?
- Sim! E era clara!
- Mas existem montanhas por todos os lados! Como saber?
- Ainda tenho um mês para decifrar os detalhes.
- Seu pai não vai deixar você ir. Até parece que não conhece o velho! Como vai fazer?
- Eu vou dar um jeito.
- Cuidado Zi, qualquer coisa dá um toque.
O sinal bate novamente, hora de voltar para a sala. Mais uma vez Ísis não percebe o tempo passar, só consegue pensar nas montanhas e, Demócrito estava certo. Como saber onde? Seu coração acelerava cada vez mais com a idéia de finalmente poder se encontrar com eles. Após tanto tempo de mensagens escondidas, agora era a hora da verdade. Estaria pronta?
- Ísis! - Chamou uma voz na porta da sala.
- Eu! - Disse a menina acordando do devaneio.
- Posso conversar com você na minha sala?
Era a coordenadora. O que será que ela queria dessa vez? Ísis vez por outra era chamada na sala de Sofia, uma senhora que conservava a beleza na idade e que era muito inteligente. Ísis não era má aluna, então imagina-se que não deveria temer, mas o olhar de Sofia parecia que entrava na alma dela e lia todos os seus sonhos, medos e desejos. Isso dava medo.
- Claro... - respondeu Ísis trêmula.
As duas caminharam para a sala de Sofia em silêncio. Ísis estala os dedos freneticamente enquanto, em vão, tenta fingir não estar nervosa.
- Aconteceu alguma coisa? - Perguntou Ísis tão logo pisaram na sala.
Sofia sorri e aponta para a cadeira, convidando Ísis a sentar-se. Ísis evita o contato visual, fingindo estar interessada na decoração da sala. Sofia a observa por alguns instantes, cruza os braços em cima da mesa, como se pretendesse assim encontrar os olhos da menina, e devolveu a pergunta:
- Me diga você. Aconteceu alguma coisa?
Ísis não levanta a cabeça. Apenas cruza os dedos e diz um singelo "não". Sofia se apóia nos cotovelos e chega mais perto da jovem:
- Ei... olha pra mim! Isso! Tenho ouvido alguns comentários dos professores de que você anda muito distraída. No que anda pensando?
- Em nada. - respondeu a menina sem pensar.
- Hum... um garoto talvez?
Ísis gelou. Será que ela sabia do Demócrito? Não era possível! Ela escondia aquilo com todas as suas forças. Será que mesmo assim ela percebeu? Abaixa a cabeça e aperta os olhos, como se assim pudesse fazer com que os olhos de Sofia esbarrem em suas pálpebras e não possam seguir a diante naquela quase hipinose.
- Não! - disse Ísis em tom de deboche. - nada de garotos por enquanto, tenho mais o que fazer!
Sofia acha engraçado, aconselha a menina como qualquer coordenadora faria no lugar dela e acrescenta:
- Se quiser conversar não exite em vir até aqui está bem? Eu vou adorar saber o nome dele... - disse em tom de provocação.
Ísis se despede e volta para sala. Já estava quase na hora do momento de apreciação musical. O diretor da escola acreditava que momentos de música eram fundamentais para o desenvolvimento dos alunos; e dona Sofia se encarregava de rechear as terças e quintas com música clássica, segundas e quartas com música brasileira e a sexta com o hino nacional.
A escola ficava encantada, todos dedicavam aqueles cinco minutos apenas para a música. As caixas de um som velho, porém potente, ficavam voltadas para o pátio da escola sempre após o intervalo e, assim, a música ressoava pelos cantos silenciosos ou cheio de barulhos incômodos. Tudo virava uma coisa só unida pela melodia que banhava as salas. Este era o momento clímax das manhãs de Ísis, momento no qual ela tirava as melhores conclusões de suas pistas achadas nos mais diversos lugares, era o momento de reflexão e de descoberta dos códigos.
Naquela segunda-feira os violinos trouxeram alguma coisa de maturidade, que colaborou para que Ísis acreditasse um pouco mais na sabedoria que ela traz.
Naquele dia Ísis gostou um pouco mais de Sofia. Por algum motivo passou a confiar nela um bocadinho a mais. Uma paz lhe invadiu a mente quando entendeu que não tinha enganado a coordenadora. Entendeu que, apesar do gelo de ter sua paixão secreta revelada, a distração não era culpa de garotos. E Sofia sabia disso, mas, mesmo assim, respeitou seu espaço e deixou uma porta aberta para uma futura amizade. Ter uma amiga adulta até que podia ser uma boa, ela precisaria de toda a ajuda necessária. Ainda mais se essa amiga fosse a coordenadora da escola! Bom, ainda tinha um mês para definir se ela era ou não digna de confiança. Afinal, se seus planos caíssem em mãos erradas poderiam causar grandes estragos...
O sinal tocou novamente indicando o final da aula e Ísis saiu apressada para não perder o ônibus, mas quando chega na porta tem uma idéia:
- Dedé, fala para o motorista que eu passei mal e que meu pai veio me buscar tá?
- Para onde você vai?
- Vou para casa a pé. Preciso pensar em algumas coisas e com o Gustavo em casa não dá.
- Mas e o seu pai?
- Hoje ele não vai em casa almoçar e minha mãe já deve ter saído para fazer compras. O que me dá em torno de uma hora. Daí é só chegar em casa e jogar a comida para o cachorro do vizinho. Ela nem vai desconfiar!
- Então tá. Toma cuidado viu? Qualquer coisa me liga!
- Pode deixar!
Ísis sai correndo pelo outro portão enquanto Demócrito carrega o recado a ser entregue ao motorista. Talvez por isso Ísis gostasse tanto de Demócrito, ele estava sempre acobertando suas idéias e travessuras. Por algum motivo nunca se envolvia, mas sempre a apoiava. Fora todas aquelas sardinhas no rosto dele, poderia existir algo mais fascinante que aquilo? Quantas figuras podia formar com todos aqueles pontinhos que se apertavam em suas rosadas bochechas!
Ísis ia assim caminhando de uniforme azul e mochila nas costas, ora pensando em Demócrito, ora na coordenadora, ora nas montanhas... e a verdade é que não conseguia se concentrar em nada. Deveria descobrir onde, exatamente, se encontraria com eles. Quanto mais rápido descobrisse melhor seria para planejar como chegaria lá. Gostava da idéia de pedir ajuda a Sofia. Será que ela entenderia? Mas mesmo assim, o que diria aos pais? Afinal era uma boa garota, não gostava de mentir, isso sempre dava errado... mas como fazer então?
- Ei moça! - chamou uma voz atrás dela.
- Oi? - respondeu virando-se.
- Você sabe onde fica a montanha russa?
- Onde fica o quê? - Os olhos de Ísis brilharam.
- A montanha russa!
Eureka! Como ela não tinha percebido isso antes? Estava tão óbvio! A estrela de cinco pontas estava de cabeça para baixo! Montanha + ponta cabeça = montanha russa! E ela vira naquela mesma manhã a propaganda do parque.
- Sei sim! Vem comigo!

Capítulo 1 versão 2?

Então, fiz umas poucas alterações no primeiro capítulo, até sexta vou mandar uma caracterização para Isis e Demócrito. Para que visualizar as minhas alterações eu marquei de vermelho e um trecho que usei da Naiara eu marquei de verde.

"Sete horas da manhã. O pai senta-se à mesa por último. Mãe e filhos, já em meio ao espartano desjejum de mingau de aveia, café preto e pão integral, fazem uma pequena pausa e observam o rígido coronel Ventura destrinchar o jornal, em busca do caderno com as notícias sobre política. Em seguida, como faz em todas as manhãs dos dias úteis, passa o restante do diário à prendada esposa, Camile, que saca o encarte com as ofertas de horti-fruti-granjeiros, repassando os outros cadernos para o disciplinado filho Gustavo, que retira para si o caderno de esportes. O restante do jornal é entregue às ansiosas mãos de Ísis, que o folheia rapidamente, em busca da parte da parte de entretenimento, com as palavras cruzadas e, principalmente, com os joguinhos de ligar pontos.
A família praticamente não se fala. Não é que os Ventura estejam brigados ou que tenham feito votos de silêncio, mas a disciplina militar difundida naquele lar organizado, onde cada um sabe suas obrigações e as cumpri assiduamente, proporcionou tal interação entre seus integrantes que dispensa o “frenético tagarelar do dia-a-dia”, como gosta de explicar o Coronel. A única que ainda carece de correção é Isis, que, vez ou outra, teima em compartilhar suas meninices tardias.
- Hoje de novo! – A garota crava a caneta no pão sobre a mesa e permanece estática, encarando uma reportagem no caderno de turismo. Ninguém repara. Ou, pelo menos, não deixam transparecer interesse pelo arroubo repentino da filha caçula. Como tem acontecido de um ano pra cá, ela já não se contenta em formar os desenhos a partir dos pontos. Desenvolveu um método peculiar de interpretar mensagens escondidas nas matérias, que, segundo Ísis, são destinadas a ela em forma de código, a partir dos pontos contidos nos textos.
- Por favor, Zi, termine o seu café. – Limita-se a dizer dona Camile, psicóloga de formação, que não vê no devaneio da filha de treze anos, onde meses e imaginação realmente muito fértil algo de mais sério, a não ser a manifestação dos anseios e frustrações adolescentes.
- Mas, é muito claro que algo vai acontecer, mãe! Na matéria sobre viagens de inverno, deu uma estrela de cinco pontas e a mensagem: “Vá para as montanhas”. – O coronel pigarreou, enquanto se levantava. Era sinal de que não aprovava a conversa. Olhou para Camile com aquele olhar de “A filha é sua”, e deixou a mesa. A mãe terminou o café em seguida e disse, enquanto recolhia a louça:
- Você irritou seu pai novamente, filha! Se apresse para não perder o ônibus da escola.
– Tudo bem, mãe. Falta só a página policial. É a pior!
– Você não tem jeito, Zi... Resmungou a mãe, caminhando em direção à cozinha.
- Caraca, guria! Essa tua paranóia tá piorando... – Gargalhou Gustavo, ao mesmo tempo em que saía segurando o último pedaço de pão com a caneta da irmã espetada. Ele também não tinha muita paciência com as histórias dela, mas, “levava de boa”, como costumava dizer.
Zi, como era carinhosamente chamada, não se abatia com a incompreensão familiar. Recortava cuidadosamente a mensagem e arquivava para análises posteriores. Seu método de decodificação era complexo demais e exigia muita atenção, de forma que ela sempre carregava sua pasta de mensagens, para trabalhar nos intervalos entre as aulas, na escola.
Pontos fascinavam Ísis, que sempre adorou seu nome, só se aborrecia quando esqueciam os pingos nos ii. Seu jogo favorito era o de ligar os pontos, ficava maravilhada como aqueles pontos podiam virar um desenho, e o melhor, ela era a criadora desses desenhos. Isis também tinha um desejo escondido guardadinho dentro dela de virar astronauta. O desejo era fundamentado na idéia de que ela amava observar as constelações no céu, como se as estrelas fossem pequenos pontos, ela sabia identificar com facilidade Escorpião, Ursa Maior, Cruzeiro do Sul; todos ficavam admirados. Não revelava essa vontade com medo dos deboches, preferia dizer que faria vestibular para Artes Plásticas. Quem sabe poderia pintar que nem Seurat? De ponto em ponto até criar o quadro. Gostava da idéia, mas Zi era um pouco preguiçosa e não sabia se conseguiria se dedicar cinco anos apenas para um quadro como fazia o pintor francês. A menina sempre foi assim: encantada com os pontos-cruz de sua avó, com os caroços da melancia, com o formigueiro, com grãos diversos; sempre montava os mais absurdos desenhos com a junção desses.
Naquele dia as duas primeiras aulas passaram voando. Mal tocara o sinal da entrada, já batera o do recreio. Isso, na percepção de Zi, que, com tantas coisas na cabeça, realmente não via o tempo passar. Talvez porque nada na aula a interessasse. Embora gostasse de estudar, não se sentia estimulada naquela medíocre “fábrica de robôs”, como gostava de se referir a sua classe de oitava série, cheia de “patrichapinhas” e “mauribombadinhos”, seus mortais inimigos, ou seja, quase todos os colegas. Apenas Maria Januária a compreendia. Mas uma menina, que tinha como mania decorar livros, e ainda com um nome daquele tipo, não era parâmetro de normalidade e nem de aceitação por parte da galera. E aê, Zi, qual é a de hoje? – Perguntou Maria Januária, depois que as duas sentaram na grama atrás do pátio da escola. – Montanhas, Janu. Eles querem me ver nas montanhas. – Respondeu a amiga. – Você vai? – Está tudo conforme os planos. – Respondeu. - Saio no dia do meu aniversário.
- Mas o seu aniversário é só mês que vem Zi! A mensagem marcava o dia? - Sim! E era clara! - Mas existem montanhas por todos os lados! Como saber? - Ainda tenho um mês para decifrar os detalhes. - Seu pai não vai deixar você ir. Até parece que não conhece o velho! Como vai fazer? Quer que eu vá junto? - Não Janu. Esse é um trabalho que tenho de fazer sozinha. Eu vou dar um jeito. - Cuidado Zi, qualquer coisa dá um toque. O sinal bateu novamente, hora de voltar para a sala. Mais uma vez Ísis não percebeu o tempo passar, só conseguia pensar nas montanhas e, Maria Januária estava certa. Como saber onde? Seu coração acelerava cada vez mais com a idéia de finalmente poder se encontrar com eles. Após tanto tempo de mensagens escondidas, agora era a hora da verdade. Estaria pronta? As duas voltam para a sala de aula, Isis continua muito distraída, então que a música começa a encher as salas da escola. Era chegado o momento de apreciação musical. Os diretores da escola acreditavam que momentos de música eram fundamentais para o desenvolvimento dos alunos. As terças e quintas eram os dias de música clássica, segundas e quartas eram os dias da música brasileira e na sexta era o dia do hino nacional. A escola ficava encantada, todos dedicavam aqueles cinco minutos apenas para a música. As caixas de um som velho, porém potente, ficavam voltados para o pátio da escola sempre após o intervalo e, assim, a música ressoava pelos cantos silenciosos ou cheio de barulhos incômodos. Tudo virava uma coisa só unida pela melodia que banhava as salas. Este era o momento clímax das manhãs de Isis, momento no qual ela tirava as melhores conclusões de suas pistas achadas nos mais diversos lugares, era o momento de reflexão e de descoberta dos códigos.
E neste momento tão especial para ela, entra pela porta de sua sala um rapaz que chamara tanto a sua atenção quanto jamais outro chamara. Demócrito entrava pela porta navegando suavemente entre notas e pausas, em passos compassados e harmoniosos. Era de fato uma figura singular: cheio de sardas e cabelo cor de fogo. _Janu, quem é esse menino? Cochichou Isis, sem se fazer notar. _Eu já tinha visto esse rapaz na sala de Dona Sofia antes de te encontrar no intervalo. Acho que é aluno novo, deve ser desses que os pais vivem de mudança. Achou ele bonitinho, né? Isis ruboresceu. _Não, não é isso. Olhe para as pintas dele, olhe só o desenho. A mesma mensagem do jornal! _Ah, não, Zi, acho que você já está forçando demais a barra.
Isis bem sabia que não tinha visto nenhuma mensagem no rosto do novo aluno. Mas não poderia assumir para a amiga que aquele rapaz a deixara confusa. Perturbada ficou quando o olhar dele se direcionou para ela, estaria ele percebendo a confusão na sua cabeça? Sim, Demócrito mal aparece na história e já cria uma grande confusão. Para Isis os desenhos formados por pontos eram sempre símbolos muito claros, pistas em potencial. Todavia, os desenhos formados no rosto de Demócrito eram instáveis, diversos e sem nexo algum. Isis estava maravilhada com a mutabilidade dos desenhos formados no rosto daquele menino.
O único lugar vazio é ao lado de Isis, Demócrito persiste em olhar para a curiosa menina, ele tem a coragem de manter o contato visual tão constrangedor e se senta e diz:
- Oi.
Isis não responde, mas se assusta com a capacidade que ele tem de não se constranger, de não se incomodar com o olhar invasivo que ela lançara anteriormente. Ele não parecia incomodado e sim muito confortável o que fez como que Zi recusasse os olhares por constrangimento, ela silenciou como a música no pátio e até o final da aula não conseguiu voltar o olhar para o estrangeiro colega."

Ísis chegando ao parque

- Mas o seu aniversário é só mês que vem Zi! A mensagem marcava o dia?
- Sim! E era clara!
- Mas existem montanhas por todos os lados! Como saber?
- Ainda tenho um mês para decifrar os detalhes.
- Seu pai não vai deixar você ir. Até parece que não conhece o velho! Como vai fazer? Quer que eu vá junto?
- Não Dedé. Esse é um trabalho que tenho de fazer sozinha. Eu vou dar um jeito.
- Cuidado Zi, qualquer coisa dá um toque.
O sinal bateu novamente, hora de voltar para a sala. Mais uma vez Ísis não percebeu o tempo passar, só conseguia pensar nas montanhas e, Demócrito estava certo. Como saber onde? Seu coração acelerava cada vez mais com a idéia de finalmente poder se encontrar com eles. Após tanto tempo de mensagens escondidas, agora era a hora da verdade. Estaria pronta?
- Ísis! - Chamou uma voz na porta da sala.
- Eu! - Disse a menina acordando do devaneio.
- Posso conversar com você na minha sala?
Era a coordenadora. O que será que ela queria dessa vez? Ísis vez por outra era chamada na sala de Sofia, uma senhora que conservava a beleza na idade e muito inteligente. Ísis não era má aluna, então imagina-se que não deveria temer, mas o olhar de Sofia parecia que entrava na alma dela e lia todos os seus sonhos medos e desejos. Isso dava medo.
- Claro... - respondeu Ísis trêmula.
As duas caminharam para a sala de Sofia em silêncio. Ísis estalava os dedos freneticamente enquanto, em vão, tentava fingir não estar nervosa.
- Aconteceu alguma coisa? - Pergunta Ísis tão logo pisam na sala.
Sofia sorri e aponta para a cadeira, convidando Ísis a sentar-se. Ísis evita o contato visual, fingindo estar interessada na decoração da sala. Sofia a observa por alguns instantes, cruza os braços em cima da mesa, como se pretendesse assim encontrar os olhos da menina, e devolveu a pergunta:
- Me diga você. Aconteceu alguma coisa?
Ísis não levanta a cabeça. Apenas cruza os dedos e diz um singelo "não". Sofia se apóia nos cotovelos e chega mais perto da jovem:
- Ei... olha pra mim! Isso! Tenho ouvido alguns comentários dos professores de que você anda muito distraída. No que anda pensando?
- Em nada. - respondeu a menina sem pensar.
- Hum... um garoto talvez?
Ísis gelou. Será que ela sabia do Demócrito? Não era possível! Ela escondia aquilo com todas as suas forças. Será que mesmo assim ela percebeu? Abaixou a cabeça e apertou os olhos, como se assim pudesse fazer com que os olhos de Sofia esbarrassem em suas pálpebras e não pudessem seguir a diante naquela quase hipinose.
- Não! - disse Ísis em tom de deboche. - nada de garotos por enquanto, tenho mais o que fazer!
Sofia achou engraçado, aconselhou a menina como qualquer coordenadora faria no lugar dela e devolveu-a para a sala.
- Se quiser conversar não exite em vir até aqui está bem? Eu vou adorar saber o nome dele... - disse em tom de provocação.
Naquele dia Ísis gostou mais de Sofia que antes. Por algum motivo passou a confiar nela um pouco mais. Ela sabia que não tinha enganado a coordenadora. Sabia também que, apesar do gelo de ter sua paixão secreta revelada, a distração não era culpa de garotos. Sofia também entendeu isso mas mesmo assim, respeitou o espaço de Ísis e deixou uma porta aberta para uma futura amizade. E, calculou Ísis, ter uma amiga adulta naquelas alturas do campeonato, não era nada mau. Ainda mais se fosse a coordenadora da escola! Bom, ainda tinha um mês para definir se ela era ou não digna de confiança. Afinal se seus planos caíssem em mãos erradas poderiam causar grandes estragos...
O sinal tocou novamente indicando o final da aula e Ísis saiu apressada para não perder o ônibus, mas quando chegou na porta teve uma idéia:
- Dedé, fala para o motorista que eu passei mal e que meu pai veio me buscar tá?
- Para onde você vai?
- Vou para casa a pé. Preciso pensar em algumas coisas e com o Gustavo em casa não dá.
- Mas e o seu pai?
- Hoje ele não vai em casa almoçar e minha mãe já deve ter saído para fazer compras. O que me dá em torno de uma hora. Daí é só chegar em casa e jogar a comida para o cachorro do vizinho. Ela não vai perceber nada!
- Então tá. Toma cuidado viu? Qualquer coisa me liga!
- Pode deixar!
Ísis saiu correndo pelo outro portão enquanto Demócrito carregava, meio a contragosto é verdade, o recado a ser entregue ao motorista. Talvez por isso Ísis gostasse tanto de Demócrito, ele estava sempre acobertando suas idéias, mesmo preocupado com ela. Fora todas aquelas sardinhas no rosto dele. Poderia existir algo mais fascinante que aquilo?
A menina não conseguia se concentrar bem em um só pensamento. Deveria descobrir onde, exatamente, se encontraria com eles. Quanto mais rápido descobrisse melhor seria para planejar como chegaria lá. Gostava da idéia de pedir ajuda a Sofia. Será que ela entenderia? Mas mesmo assim, o que diria aos pais? Afinal Ísis era uma boa garota, não gostava de mentir, isso sempre dava errado... mas como fazer então?
- Ei moça! - chamou uma voz atrás dela.
- Oi? - respondeu virando-se.
- Você sabe onde fica a montanha russa?
- Onde fica o quê? - Os olhos de Ísis brilharam.
- A montanha russa!
Eureka! Como ela não tinha percebido isso antes? Estava tão óbvio! A estrela de cinco pontas estava de cabeça para baixo! Montanha + cabeça para baixo = montanha russa! E ela vira naquela mesma manhã a propaganda do parque.
- Sei sim! Vem comigo!

Sete horas da manhã. Íris senta-se à mesa primeiro. Naquele último momento de calma, em que todos ainda estão dormindo, tem tempo para folhear o caderno de política e deixar sobre a mesa o restante do jornal, que a casa vai devorar, cada um a sua maneira. A mãe normalmente cata os classificados, o pai confere a página de entretenimentos, pela qual é o editor responsável no plantão noturno do jornal. Íris faz seu leite com Nescau e dá continuidade ao seu ritual de todas as manhãs. Enquanto termina o leite, ouve o grito da mãe:
- Meu Deus, já estou atrasada! – Mais uma vez o despertador não tocou. Dona mariana pula da cama já nervosa com o horário e com o esquecido marido, “que já devia ter consertado aquele maldito despertador!”
- Bom dia meu anjo... – Beija a cabeça da filha, senta-se apressada para empurrar uma grande xícara de café forte e amargo, único item de seu desjejum, rico de eletrizante cafeína, combustível para uma longa jornada em dois empregos estafantes no centro da cidade. – Oi mamãe. Dormiu bem? Cê ta bonita! Nos vamos no cinema amanhã?... – Segue Íris falando desenfreadamente. Ela gosta de aproveitar os poucos minutos que tem com a mãe, que sai muito sedo todos os dias e só volta quando filha já esta dormindo.
- Oh, minha linda! A mamãe esta com pouco tempo. Mas, agente combina o cinema depois... – Levanta-se a mãe enquanto senta-se o pai. Os dois trocam um rápido selinho matinal, antes de a dona Mariana bater em retirada.
Seu Guimarães, como sempre, mesmo tendo chegado do trabalho de madrugada, faz questão de tomar café com a filha, pois não estará em casa quando Íris voltar de seu longo dia de estudante, de suas diversas atividades extracurriculares, como a aula de flauta transversal, natação e do clube de literatura que participa na escola.
- Bom dia princesa. Já leu o jornal todo? – Brinca seu Guimarães, com a mania de leitura de sua estudiosa filha. – Eu ouvi você perguntando sobre o cinema pra mamãe. É que ela esta trabalhando e estudando muito, minha filha. Mas, se ela não puder ir, eu vou, ta bom?
- Tudo bem, Guimarães. Já estou acostumada... – Responde conformada. Íris se lamenta do pouco contato com a mãe nos últimos anos. Guimarães, como é chamado informalmente pela sua princesa, tenta suprir a ausência de Mariana. A condição de ser filha única agrava ainda mais a solidão de Íris, que se afunda nos livros em busca de companhia.
Para passar o tempo e a solidão, Ires inventou um jogo secreto. Ela costuma invadir o computador do seu pai para mexer nos arquivos do trabalho. Faz alterações imperceptíveis nos jogos de ligar pontos e nas palavras cruzadas. Elabora relações entre os desenhos e as palavras de forma a criar mensagens. Na verdade não sabe muito bem o que comunicar e muito menos para quem. Talvez queira apenas chamar atenção. Do pai, da mãe, de alguém... Seja lá quem for. É esse seu jeito meio tímido que a faz ficar isolada. Daí sua cabecinha fica fervendo de idéias malucas. Essa de mandar mensagens em código, na página de entretenimento do jornal da cidade é apenas mais uma de suas novas esquisitices.
Ires esta numa faze estranha de sua vida. Não se reconhece muito bem no espelho, o qual até o momento era seu único e verdadeiro amigo. Com quem costumava conversar por horas, despertando até certa preocupação da família. Mas, seus pais são pessoas tranqüilas. Fora o corre-corre diário da mãe, a vida “morcega” do pai e as excentricidades da filha, os Guimarães são como qualquer família brasiliense de classe média e se amam muito. Porém Íris... Íris tem alguma coisa. Já não consegue prestar atenção a boa parte das histórias de seu pai, falando daqueles “áureos tempos da juventude”, “o seu tempo de ativista político” e sente falta da mãe, que sempre estava trabalhando. Seus dias parecem estar se fechando num ciclo de rotina que não mais a comportava. Íris tem lá seus meios de calar toda essa estranheza que nasce dentro do seu corpo de treze anos, onze meses e imaginação realmente muito fértil.
Na escola as coisas também andam estranhas. Íris até gosta de estudar. Sua matéria preferida é História. Quantas vezes foi à Idade da Pedra, chegou até os maiores confrontos da humanidade, viu os mais belos monumentos, para depois tornar a ver a si mesma, sentada na carteira, como sempre, na primeira fila. Sabe, essas viagens costumavam ir mais longe, parecia realmente que alguma coisa estava acontecendo. Hoje, as duas primeiras aulas quase não passaram. No recreio, aquele alívio, a sala se esvazia e ela é a última a sair. Desembrulha o lanchinho que já traz de casa, come-o quietinha, e vai ao encontro daquelas três meninas ali, com quem ela até conversa, mas não se abre. Está cada vez mais sozinha naquele mundo da escola.
Na aula seguinte, enquanto fazia o exercício de Geometria, lembrou-se dos planetas, das galáxias, do sol, do zodíaco, e se deu conta que seu aniversário estava perto. Já ouvira falar em inferno astral, mas será mesmo? Não sabia o que tinha, mas sentia um vazio, não conseguia mais brincar com a antiga fluidez, previa totalmente seu dia e já se entediava antes de qualquer coisa: quando chegar a casa, vai tirar o uniforme, fará todas as lições, verá as novelinhas e os jornais na TV, jantará alguma coisa sozinha e depois irá para a cama, tentando ficar acordada para receber o precioso beijo de boa noite de dona Mariana, se ela não chegar muito tarde.
Nesse ritmo, passou mais um dia de aula. Sabia que esperaria o ônibus, como sempre, naquela parada, como sempre, e que, no ônibus, estaria o mesmo motorista, como sempre. Íris, indo contra todo aquele “como sempre”, tomou uma decisão que parecia boba, mas que mudou sua vida:- Hoje eu vou pra casa a pé.

Texto do Ramiro - Sobre a Íris

Sete horas da manhã. Íris senta-se à mesa primeiro. Naquele último momento de calma, em que todos ainda estão dormindo, tem tempo para folhear o caderno de política e deixar sobre a mesa o restante do jornal, que a casa vai devorar, cada um a sua maneira. A mãe cata os classificados, o pai rasga e recorta algumas figuras que ele coleciona. Íris faz seu leite com Nescau e dá continuidade ao seu ritual de todas as manhãs. É só terminar o seu leite que ela ouve tocar o despertador da sua mãe:
- Meu Deus, já estou atrasada!
O pai vai acordando e pedindo logo um beijo da filha, que é única. Quando a mãe sai do banho, praticamente arrumada, o pai, ainda de pijamas, senta-se à mesa preparando um pouco do pão do dia anterior, que ainda estava por ali. Ele ajuda muito, mas como sua profissão é a música, ainda passa por alguns altos e baixos, e não tem como arcar com tudo sozinho, além de trabalhar de madrugada. Já a mãe tem mais de dois empregos e luta para sustentar a casa e os estudos da filha. Às oito horas da manhã, Dona Mariana sai e a filha vai para a esquina com o pai, esperar pelo ônibus.
É uma família tranqüila, se amam muito, mas Íris... Íris tem alguma coisa. Já não consegue prestar atenção a boa parte das histórias de seu pai, falando daqueles “áureos tempos da juventude”, “o seu tempo de ativista político” e sentia falta da sua mãe, que sempre estava trabalhando. Seus dias parecem estar se fechando num ciclo de rotina que não mais a comportava. Íris tem lá seus meios de calar toda essa estranheza que nasce dentro do seu corpo de treze anos, onze meses e imaginação realmente muito fértil. Íris gosta de estudar.
Sua matéria preferida é História. Quantas vezes foi à Idade da Pedra, chegou até os maiores confrontos da humanidade, viu os mais belos monumentos, para depois tornar a ver a si mesma, sentada na carteira, como sempre, na primeira fila. Sabe, essas viagens costumavam ir mais longe, parecia realmente que alguma coisa estava acontecendo. Hoje, as duas primeiras aulas quase não passaram. No recreio, aquele alívio, a sala se esvazia e ela é a última a sair. Desembrulha o lanchinho que já traz de casa, come-o quietinha, e vai ao encontro daquelas três meninas ali, com quem ela até conversa, mas não se abre. Está cada vez mais sozinha naquele mundo da escola.
Na aula seguinte, enquanto fazia o exercício de Geometria, lembrou-se dos planetas, das galáxias, do sol, do zodíaco, e se deu conta que seu aniversário estava perto. Já ouvira falar em inferno astral, mas será mesmo? Não sabia o que tinha, mas sentia um vazio, não conseguia mais brincar com a antiga fluidez, previa totalmente seu dia e já se entediava antes de qualquer coisa: quando chegar a casa vai acordar o pai para irem ao self-service de sempre, voltará pra casa, fará todas as lições, verá as novelinhas e os jornais na TV, jantará alguma coisa com seu pai, que sairá exatamente na hora em que sua mãe chegar, ainda em tempo de dar o “Boa Noite”.
Nesse ritmo, passou mais um dia de aula. Sabia que esperaria o ônibus, como sempre, naquela parada, como sempre, e que, no ônibus, estaria o mesmo motorista, como sempre. Íris, indo contra todo aquele “como sempre”, tomou uma decisão que parecia boba, mas que mudou sua vida:
- Hoje eu vou pra casa a pé.

... Mais pitacos.

Olá colegas escritores,
na última aula quando discutíamos sobre como e quem seria a amiga/irmã/seiláoque da Zi, que ficou para o Ramiro escrever um capitulo, apresentei a idéia de que elas não deveriam se encontrar (pelo menos não no começo do livro). Cada uma estaria à procura de uma amiga tal qual a outra seria, mas, as ironias do destino acabariam sempre por impedir um “encontro de verdade”. Lembro que uma colega até lembrou do filme/livro A Dupla Vida de Veronique. Então, até cogitamos que uma seria a sósia da outra... Acho que essa idéia pode ser muito bem desenvolvida. Não precisa ser necessariamente irmã gêmea, mas, pessoas com jeito de falar muito parecido e fisionomia semelhante. Podemos trabalhar a idéia de que as pessoas não olham nos olhos, não prestam realmente atenção uns as outros, principalmente dentro de uma família . Aventei que poderíamos apresentar o contexto existencial da cada uma paralelamente, de forma que em muitos casos elas seriam opostas, porém, ao mesmo tempo seriam complementares, cada uma tendo algo que daria mais equilíbrio e sentido a vida da outra.
Mostraríamos o dia a dia da Zi e da outra e o quanto elas poderiam estar próximas, no entanto, sem se encontrarem. Inclusive uma poderia se passar pela outra em algumas ocasiões sem que seus familiares percebessem, trabalhando o distanciamento das pessoas numa família nos dias de hoje (a outra poderia ficar no lugar da Zi enquanto ela viajava)... Mas, uma coisa é importante, já devemos fazer algumas perguntas para nossos personagens. Coisas como o que ela realmente quer? Qual é o seu drama pessoal? O que ela vai precisar vencer em si ou no mundo para conseguir chegar ao seu objetivo? Normalmente quando estou montando um personagem, essas perguntas me ajudam muito na condução de um roteiro coerente para estória. Isso, inclusive, é outra coisa que poderíamos já ir definindo, pois servirá como cominho e meta para que todos possamos enxergar a estória da Zi de uma forma mais homogênea...

Esses são alguns “pitacos”, apenas como sugestão.

Abraços,
Gláucio.

Começo do livro

Sete horas da manhã. O pai senta-se à mesa por último. Mãe e filhos, já em meio ao espartano desjejum de mingau de aveia, café preto e pão integral, fazem uma pequena pausa e observam o rígido coronel Ventura destrinchar o jornal, em busca do caderno com as notícias sobre política. Em seguida, como faz em todas as manhãs dos dias úteis, passa o restante do diário à prendada esposa, Camile, que saca o encarte com as ofertas de horti-fruti-granjeiros, repassando os outros cadernos para o disciplinado filho Gustavo, que retira para si o caderno de esportes. O restante do jornal é entregue às ansiosas mãos de Ísis, que o folheia rapidamente, em busca da parte da parte de entretenimento, com as palavras cruzadas e, principalmente, com os joguinhos de ligar pontos, sua incontrolável mania, desde que se entende por gente.

Eles praticamente não se falam. Não é que a família Ventura esteja brigada ou que tenha feito votos de silêncio, mas a disciplina militar difundida naquele lar organizado, onde cada um sabe suas obrigações e as cumpri assiduamente, proporcionou tal interação entre seus integrantes que dispensa o “frenético tagarelar do dia-a-dia”, como gosta de explicar o Coronel. A única que ainda carece de correção é Isis, que, vez ou outra, teima em compartilhar suas meninices tardias.

- Hoje de novo! – A garota crava a caneta no pão sobre a mesa e permanece estática, encarando uma reportagem no caderno de turismo. Ninguém repara. Ou, pelo menos, não deixam transparecer interesse pelo arroubo repentino da filha caçula. Como tem acontecido de um ano pra cá, ela já não se contenta em formar os desenhos a partir dos pontos. Desenvolveu um método peculiar de interpretar mensagens escondidas nas matérias, que, segundo Ísis, são destinadas a ela em forma de código, a partir dos pontos contidos nos textos.

- Por favor, Zi, termine o seu café. – Limita-se a dizer dona Camile, psicóloga de formação, que não vê no devaneio da filha de treze anos, onde meses e imaginação realmente muito fértil algo de mais sério, a não ser a manifestação dos anseios e frustrações adolescentes.

- Mas, é muito claro que algo vai acontecer, mãe! Na matéria sobre viagens de inverno, deu uma estrela de cinco pontas e a mensagem: “Vá para as montanhas”. – O coronel pigarreou, enquanto se levantava. Era sinal de que não aprovava a conversa. Olhou para Camile com aquele olhar de “A filha é sua”, e deixou a mesa. A mãe terminou o café em seguida e disse, enquanto recolhia a louça:

- Você irritou seu pai novamente, filha! Se apresse para não perder o ônibus da escola.

– Tudo bem, mãe. Falta só a página policial. É a pior!

– Você não tem jeito, Zi... Resmungou a mãe, caminhando em direção à cozinha.

- Caraca, guria! Essa tua paranóia tá piorando... – Gargalhou Gustavo, ao mesmo tempo em que saía segurando o último pedaço de pão com a caneta da irmã espetada. Ele também não tinha muita paciência com as histórias dela, mas, “levava de boa”, como costumava dizer.

Zi, como era carinhosamente chamada, não se abatia com a incompreensão familiar. Recortava cuidadosamente a mensagem e arquivava para analises posteriores. Seu método de decodificação era complexo demais e exigia muita atenção, de forma que ela sempre carregava sua pasta de mensagens, para trabalhar nos intervalos entre as aulas, na escola.

As duas primeiras aulas passaram voando. Mal tocara o sinal da entrada, já batera o do recreio. Isso, na percepção de Zi, que, com tantas coisas na cabeça, realmente não via o tempo passar. Talvez porque nada na aula a interessasse. Embora gostasse de estudar, não se sentia estimulada naquela medíocre “fábrica de robôs”, como gostava de se referir a sua classe de oitava série, cheia de “patrichapinhas” e “mauribombadinhos”, seus mortais inimigos, ou seja, quase todos os colegas. Apenas Demócrito a compreendia. Mas um menino ruivo, com a pele tão sardenta que mais parecia um leopardo de uniforme, e ainda com um nome daquele tipo, não era parâmetro de normalidade e nem de aceitação por parte da galera.

E aê, Zi, qual é a de hoje? – Perguntou Demócrito, depois que os dois sentaram na grama atrás do pátio da escola. – Montanhas, Dedé. Eles querem me ver nas montanhas. – Respondeu a amiga. – Você vai? – Está tudo conforme os planos. – Respondeu. - Saio no dia do meu aniversário.

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