Ele sentou-se no meio da rua e começou a chorar. Tudo o que desejava era não ter estado ali e nem ter ouvido o que ouviu. Como era possível?
A foto datava de 1945 e na lembrança só lhe vinham as conversas com o pai sobre a maneira peculiar que Ela tinha de preparar o chá. Como poderia aquilo tudo ser verdade?
Ele enxuga as lágrimas e chama um táxi. Ajeita a pequena mala no banco traseiro e se senta ao lado. Lágrimas ainda lhe percorrem o rosto enquanto diz:
- Para o aeroporto por favor.
O motorista puxa assunto e vez por outra Ele responde com um monossílabo qualquer, mas seu pensamento está distante, repassando diversas vezes a cena que vivera momentos atrás:
- Lamento que você tenha descoberto tudo dessa maneira... não era para ser assim... me perdoe!
A luz forte do aeroporto interrompe seus pensamentos perdidos e Ele desce do carro. Paga o táxi e vai em busca de seu destino.
- 1945... - repete ele baixinho - como é possível que fosse Ela?
- Existem muito mais verdades na vida do que as em que estamos dispostos a acreditar. - fala uma voz por cima do ombro Dele.
- Pai?! Mas... o que você está fazendo aqui? Como sabia onde me encontrar?
- Ela me ligou chorando quando você saiu, imaginei que estaria aqui. Fugindo! Como sempre...
- Então você sabe porque... Você sabia o tempo todo?
- Desculpe, mas como é que eu ia te contar? Você estava feliz, Ela estava feliz... para que saber?
- Mas como?
- Eu a reconheci. Ela e sua avó eram muito amigas. Ela teve que me contar.
- Isso não pode estar acontecendo... eu tenho que ir.
- Espere! Deixe-me explicar...
O avião estava atrasado duas horas e mesmo assim o pai não parecia se aproximar de uma conclusão.
- Então Ela se apaixonou por mim quando eu a atendi no hospital? Mas Ela estava delirando! A beira da morte!
- Sim, mas foi só aí que Ela pôde reconhecê-lo! Só então Ela o identificou... sua alma gêmea!
- Isso é ridículo. - disse Ele, articulando bem os lábios como se seu pai os tivesse lendo.
- Não seja cético meu filho! Dê uma chance a você mesmo e ao sentimento que cresce no seu peito! Vocês querem ficar juntos e...
- Pai, Ela morreu!
- Mas voltou! Jovem, bonita e... e o chá que Ela faz? Igualzinho ao da sua avó...
- Escuta o que você está falando! Essa mulher tem 95 anos! E está morta! Isso é impossível! E você está a duas horas falando, mas não disse nada!
Nesse momento parece que o pai perde a cabeça e por um instante parece não pensar no que diz:
- Você não conhece a Morte! - As palavras do pai ecoam no ar... Ele, que já estava de costas, vira-se novamente e não acredita no que ouve.
- Você não conhece a Morte! - repete o pai com os olhos arregalados. - Você não a conhece! Linda, carinhosa, de vermelho... a Morte não é como dizem. - mais calmamente o pai continua - ela é colorida e tudo ao seu redor também fica quando ela se aproxima... parece... parece um anjo! Mas seu olhar profundo não deixa esconder quem ela realmente é. - neste momento o pai olha para baixo e parece buscar coragem para emitir a próxima frase:
- Eu também voltei... Por você. Por sua mãe. Milagres não existem. O que existe é o amor... e a Morte.
- Mas... mas como?
- Não dá para explicar... isso é entre você e ela. Entre cada um de nós e ela.
- Tá bom, pra mim já chega. Isso tudo é demais para a minha cabeça. Eu vou embora.
- Então você vai deixa-La sofrer por uma vida inteira outra vez?
Ele emudeceu. Seus olhos novamente se encheram de lágrimas. Ele olhou o pai com carinho, como se assim pudessem se comunicar, secou o rosto e partiu.
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está sem autor, mas foi a naiara, não foi? a sua imaginação leva vc longe, e isso é bom, mas tem algo no encadeamento desse conto que me deixa de pé atrás: é o aparecimento do pai, do nada, no exato lugar e hora em que está o filho. já é tudo tão fantástico que esse tipo de aparição deveria ser mais real, mais plausível. que vc acha? mas gosto, gosto muito da idéia.
elizabeth disse...
22 de agosto de 2008 às 18:20
ué está assinado sim: Nai
E na verdade eu consertei o lance do pai aparecer do nada. A mulher ligou para ele e ele conhece o filho, sabia q ia estar no aeroporto.
Mas tudo bem, vou tentar colocar mais elementos que confirmem isso.
Que bom que tem alguém que gosta! Minha mãe detesta minha histórias sem final feliz ahuau
Naiara Lira disse...
22 de agosto de 2008 às 22:21
Tenho lido os posts do blog e tenho viajado muito com todos os escritos. O Blog foi recomendado pela Naiara e não me arrependo de ter usado parte do meu tempo aqui... é engraçado como idéias geram idéias, contos se multiplicam, como se tudo tivesse um ansia de ser mais, uma vontade de se multiplicar infinitas vezes e crescer em nossas mentes!
Conheço a prof. Hazin a algum tempo, fiz duas matérias com ela e sinto muita saudade das aulas, quero ver se semestre que vem consigo pegar essa matéria... é desafiador! =)
Ahh espero ansioso pelo livro!
Se puderem, dêem uma passadinha no blog que escrevo com uma amiga...adoraria ver alguns comentários lá...
http://massarandupios.blogspot.com/2008/01/rovoluo-nua.html
Sucesso!
Ricardo Moura disse...
24 de agosto de 2008 às 13:12