Eu adorava quando ela dizia "balão". Quando falava isso, parecia que soprava pequenas bolhas. As palavras saíam de sua boca como se deslizassem. Não eram como as palavras de seu pai, como um turbilhão. Mas naquelas horas nada mais importava além de nós duas ali na cozinha, desfrutando daquela cumplicidade distante que poderia haver entre aquele que serve e quem é servido.
O que mais me agradava em sua companhia era o fato de Marta ser a única que parecia ter algo em comum comigo. A cozinha era meu lugar de trabalho, onde seu pai e os outros compareciam para que eu os servisse. Mas Marta não. Ali ela me contava longas histórias sobre gente desconhecida, enquanto eu apenas observava o modo como ela fazia chá. Aquele chá eu nunca quis provar, mas tenho certeza de que não tinha o mesmo gosto do meu.
Algumas vezes eu tentei lhe contar alguma coisa sobre minha mãe e o tempo em que estudei, mas nada do que eu dissesse pareceria tão facinante quanto aquelas histórias que eu escutava enquanto sentia o cheiro do chá que se misturava com o gosto da sopa agora fria que eu havia servido para o jantar. Outras vezes eu tentei lhe falar sobre festas que eu não fui e amores que não vivi. Bem, ela podia ser jovem, mas não era tola. Marta apenas sorria um sorriso de quem tenta ou finge acreditar. Ainda que minhas histórias fossem verdadeiras, jamais aquelas palavras soariam como quando Marta as falava. E ali ficávamos nós duas em nossa quase intensa proximidade. Ela me contava detalhes de seu dia sorvendo longos goles de seu chá, e eu me sentia importante por poder escutá-la e sentir aquele aroma.
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