- Está tarde! Pensou Ísis ainda encantada com o ‘Montanhas Mágicas’. Os olhos da menina brilhavam refletindo todos aqueles vaga-lumes gigantes, girantes ao seu redor.
As luzes do parque refletiam magia e a menina se deixou encantar.
Ísis tinha também ali se reencontrado! O parque a fez aproximar-se de si mesma, imersa em luzes, cheiros, gargalhadas, cores e... Ali queria permanecer num não cessar até que todos os sinais viessem às suas mãos, mas ainda lhe faltava um mês e a busca deveria ser sua.
- Não devia ter demorado tanto! Pensava já aflita ao caminhar em direção à rua que lhe fizera entrar no parque.
Passo dado pela menina era logo repetido por ele. Se Ísis se virava para ver o relógio ou amarrar o casaco na cintura, ele logo a imitava. E assim iam os dois... Ísis preocupada nem o havia percebido, mas ele não desistiu e continuou a dançar com os passos apressados da menina.
Os dois passaram pelo carrossel até chegarem à primeira montanha-russa. Foi então que Ísis ao lembrar mais uma vez o que lhe dizia o jornal naquela manhã, mesmo correndo, decidiu parar. Logo, passo cessado pela menina e passo quase imitado pelo palhaço, resultou-se num tombo bem dado!
Ísis se assustou com aquela confusão, mas ao ver aquele velho palhaço caído ao seu lado, não conseguiu tirar-lhe os olhos... Aliás, achou a roupa do palhaço tão bonita, parecia com a camisa de seda que tinha dado ao pai em seu aniversário.
- Colorido a camisa do teu bonito! Quase sem fôlego exclamou a menina.
- Me parece que as palavras teimam em dar cambalhotas no céu da nossa boca! Respondeu o palhaço depois de também dar uma cambalhota antes de se levantar.
Ísis ao perceber o que tinha dito explicou, levantando-se, que estava nervosa, pois seu pai já deveria estar em casa a aguardando furioso.
Não houve tempo para que os dois se conhecessem, pois Ísis estava realmente aflita, se despediu e saiu correndo.
- Um mês que nada, agora só terei três semanas! Dessa vez não escapo de uma semana inteira de castigo! Refletiu Ísis ao chegar à porta de casa.
Mal tocara a campainha e a faxineira já abrira a porta. Ísis, ao entrar calada, decidiu muda ficar. Foi direto para o quarto. Bastante preocupada, mas ainda anestesiada por tudo o que lhe tinha ocorrido no ‘Montanhas Mágicas’, decidiu despejar todos os seus arquivos na cama e ligar o computador, para que estivesse ocupada com possíveis estudos. Talvez assim pudesse abrandar o castigo!
O primeiro vocábulo pesquisado é montanha, o segundo não seria outro além de mágica... A cada segundo, milhares de novos sentidos lhes eram dados. E no computador, todo aquele mágico cenário se recriou... outros cenários foram surgindo, outras personagens, cores... Ísis atentou-se, surpresa, para cada um deles, a cada segundo, a cada dado um novo sinal se fazia presente.
A menina, concentrada, entrou ainda mais no mundo que ela mesma criara. Que ela mesma se encontrara.
- Abre logo a porta menina! Já preocupada a faxineira gritava.
Sem quase ouvir as batidas, também já sem se concentrar na pesquisa, Ísis retornou ao quarto, à escrivaninha, a todos os arquivos na cama, assim, à voz da faxineira.
- Mas menina, tua mãe está te esperando lá embaixo!
- Minha mãe lá embaixo? Pensou Ísis.
A menina mesmo tentando se esquivar da bronca que com certeza levaria, não pôde deixar de abrir a porta. Saiu do apartamento. Desceu à garagem e lá encontrou Dona Camile cheia de sacolas.
- Me ajude aqui, Zi!
- Mas você demorou mãe!
- Demorei? Você acha que é fácil escolher todas essas verduras, legumes, carnes, teus biscoitos e tudo da semana em uma única hora?
- Desculpe, juro que pensei que fosse mais tarde!
- Já comeu filhinha? A moça cuidou direitinho da casa?
- Não, nadinha!
- Como assim, o que ela fez? Minha Nossa Senhora!
- A mãe, a senhora já pensa o pior, além de fazer mil perguntas ao mesmo tempo. Disse que não quis comer nada! Tô sem fome.
- Mas você também acha que não devo me preocupar com isso? Suba logo que eu quero ver o seu prato vazio, limpo e enxuto na pia! Com certeza a senhorita ficou todo esse tempo no computador...
- Tá bom mãe! Tô cansada, bora subir!
- Ai se seu pai tivesse almoçado em casa!
As duas seguem ao elevador.Enquanto Dona Camile está preocupada com alguns itens que faltam comprar na farmácia e no açougue, Ísis já aliviada e sem compreender como poderia ter passado somente uma hora no parque, constata que terá que voltar lá com urgência.

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Queridos escritores: Pensei que aquela passagem onde Ísis pesquisa no google (a cada segundo mil coisas acontecem), que será idealizada pela Dani, poderia ser encaixada neste capítulo... vejam se realmente isto será possível. Isso é com a Dani, por isso não me atrevi a escrever muito... A gente define na segunda, qualquer coisa poderei reformulá-lo!

1 idéia(s):

Meu capítulo

Poesia de Íris

Eu queria ter cor, qualquer cor
Me vestir de rosa laranja
Estilo novo longa franja,
Verde, vermelha, amarela

E não ser mais de vidro, frágil
E invisível. Mas não é fácil
Deixar de ser mais uma no mundo
E em um segundo ser “aquela”.

Eu só queria que alguém me visse
E soubesse quem eu sou.
Parece que na escola o povo
Não se fala, bateu o sino
Pode ir embora, pronto, acabou.

Eu queria escrever no céu
Que toda menina precisa
De uma companhia qualquer.
Todo mundo nasce pra ser feliz
Seja velho, aprendiz, homem ou mulher.

Às vezes o que me dá é vontade
De roubar o jornal do meu pai
Anunciar a mina existência.
Porque eu não agüento mais
Ficar o dia inteiro fazendo aula
Disso e aquilo. Aja paciência.

Íris


Ísis, falando sozinha:

__ Meu Deus! Quem é essa menina? Fantástico, sensacional! Que lindo! Mas por que será ela se sente tão triste, assim, desse jeito, como se tivesse sido abandonada pelo mundo? Mas de qualquer modo isso é um espetáculo. Eu é que queria escrever desse jeito. Meu Deus, quantos anos será que deve ter essa menina? Olha esse nome: Íris, só muda uma letra do meu! É bom saber que nesse mundo tem tantas pessoas que eu ainda não conheço... Nossa, tem bem mais coisa aqui. Meu Deus, eu sei que ninguém tem o direito de invadir a privacidade de alguém assim, mas a curiosidade é tanta que será um desperdício não ler o que tem aqui. Desculpa menina desconhecida, mas eu acho que não vou agüentar.

Hoje a aula de flauta foi legal. Foi ótima, quer dizer! Nossa, como eu adoro essa flautinha! Mas já é muito tarde. Por hoje, você, diarinho, vai ficar só com a flautinha. Mas basta! Até porque já é muito tarde e o dia é longo.


Ísis: Ela toca flauta? Que lindo!

Hoje é o dia do arrependimento! Só pode! Por que eu fiquei o dia inteiro na aula me punindo, toda arrependida, por fuçar as coisas de trabalho do meu pai, às vezes? Não, mas isso não é paranóia, é vergonha. Eu preciso ter vergonha. Realmente, eu preciso me limitar aos meus bobos desejos. Meu pai ficaria uma fera se soubesse que eu olho as coisas que ele escreve para o jornal. Mas contar para ele não seria uma boa...

Nossa, o pai dela escreve também. Agora estou começando a achar a origem desse dom.
A família inteira deve ser inteligente.

Texto de Íris:

A Geografia da Vida

Cada um com sua história, com a sua fragilidade, com sua burrice de pensar que só si sofre nesse mundo. Talvez a verdade seja aquela mesmo, parecida com aula de geografia, onde o que você sente diante do mundo é equivalente a uma pessoa diante da civilização globalizada, ou seja, nada. Essa é a maior dor, a consciência de que se é pequeno, a solidão introspectiva desgraçada, que todo mundo tem vergonha de mostrar, mas que todo mundo tem, até o maior garanhão da urbanização. Com o tempo os trabalhadores, acostumados com o setor terciário, vão percebendo que muitos produtos baratos e quaisquer lucram menos do que um só, caro, muito caro, feito com cuidado e carinho. Essa é a verdade dolorida do garanhão, ou de qualquer cantor famoso, talvez a verdade mais dolorosa, mas que pelo menos mostra algumas outras verdades essenciais. Imagine um artista ilustre, depois do show, pedir aos seguranças para que escolham as mais lindas fãs e então, no camarim, transar com elas. Mas depois, num dia sem show, num domingo qualquer, todos os namorados estão namorando na praça e o homem da fama, adorado por milhares de pessoas, lá, sentado no sofá, sozinho, somente com o sofá, o controle remoto e a televisão ligada. Quem não acredita em reencarnação e então pensa que a vida é só essa deve pensar também que sempre é bom ter uma pessoa, uma única pessoa com quem se pode conversar, conversar sobre tudo, sobre o que os adolescentes acham feio, mas riem pra disfarçar. Nunca faz mal ter alguém que fale quais são seus defeitos, porque assim a gente evolui, já que sempre podemos evoluir, embora pensemos que existe limite para nossa evolução. Não há desperdiço em ter alguém em cujo ombro se possa chorar sem saber o porquê e sem nenhuma preocupação, pois essa outra pessoa um outro dia também vai chorar pela mesma razão pela qual todos choram: a pobreza de ser só. E assim essa mesma pessoa vai mais além da boate e da beleza, até demonstrar que ninguém nasce pra viver sozinho. A partir disso a gente vai tentando entender como funciona um sistema que é mais importante do que o sistema capitalista, o socialista, ou comunista. É o sistema emocional de cada pessoa, envolvido com desejos e mais desejos. É aquele sistema que de vez em quando emerge em forma daquele famoso “sentido da vida”, que todos procuramos, mas nunca achamos por inteiro, pelo fato de sempre querermos mais e mais, pois vivemos tanto ele, que o seu preço se torna preço de camelô, já que a oferta é enorme.

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Eu não estou acreditando que alguém pode escrever isso. É inacreditável. Ela deve gostar de geografia. Quanto mais eu leio menos vontade de parar de ler eu tenho. Não dá.



Eu queria conhecer alguém. Alguém que mudasse a minha existência, que entendesse tudo, até aquilo que eu não entendo até hoje. Será que existe essa pessoa, ou será que isso é impossível? Eu queria ter uma amiga para toda e qualquer hora, uma amiga única, um presentinho de Deus. Mas a vida é bela e tenho muita fé. Esse mundo é tão grande, Deus! Será que não tem ninguém legal pra mim? Ou será que eu que sou a chata?
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Ísis: Não, menina. Eu existo!

23 de novembro de 2008 às 23:10  

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