Oito horas da manhã. O sinal da escola toca. Ísis entra na sala, como sempre no meio de tanta gente, mas se sentindo sozinha. Mas hoje havia algo de diferente. O parque não saía de sua cabeça.
A professora de matemática resolvia um problema, mas nem os fascinantes milhares de milhares de pontos do plano cartesiano prendiam a atenção da distraída menina. Ela que sempre gostou de pensar em como dois pontinhos poderiam formar uma reta ou em como frações de segundo formavam minutos, horas, dias, meses, anos e séculos, não podia deixar de ficar deslumbrada com o que aconteceu no dia anterior. Aquele dia em que todo esse sistema chamado tempo se desfez.
Enquanto a turma acompanhava a aula, Ísis continuava pensando que assim como aqueles pontos formavam retas que viriam a formar planos, os pequenos acontecimentos de sua vida formavam algo que não conseguia explicar o que era. Estaria crescendo? Ela esperava que não. Em sua cabeça de menina, passavam-se vários episódios que tanto lhe marcaram. Aquele dia a tantos anos atrás no planetário, aquela tarde na casa de sua tia que seu pai nunca descobriu e, agora, o tempo que passara no parque. As luzes, as pessoas, as montanhas, tudo aquilo lhe vinha à memória. Ela já tinha ido a outros parques antes, mas aquele parque...ah, aquele parque. Ele tinha algo de vivo, algo que faltava em seus dias. Aquele parque que quebrava o sistema fechado e rígido do tempo poderia quebrar também, ou pelo menos fazer esquecer, toda aquela ditadura que a cercava diariamente? Certamente que sim. Ele já havia feito isso. No fundo ela sabia que se tornaria freqüente naquele lugar.
Agora estava decidida. Ia prestar atenção na aula. Esqueceria por algumas horas o carrossel, o chão batido que deixara seu tênis avermelhado, o palhaço. Uma ansiedade lhe tomava o coração, pois sabia que precisava voltar ao parque. Mas agora precisava prestar atenção na aula de geografia. Só que o tempo não passava. Ah...os segundos, as horas....
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